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Produtores agrícolas protestam contra governo e interrompem vendas na Argentina

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As principais organizações de produtores agrícolas da Argentina se manifestaram às margens das rodovias, nesta quarta-feira, e suspenderam a comercialização de grãos e pecuária por 24 horas para exigir mudanças na política econômica do governo de Alberto Fernández. Reunidos na chamada Mesa de Enlace, os produtores rurais pedem isenção de impostos e a normalização do abastecimento de combustíveis. A Argentina enfrenta uma escassez de gasolina nas últimas semanas, no auge da colheita.

“O governo nos leva a uma pressão de impostos mais do que excessiva e a um duplo mercado cambiário que afeta a rentabilidade”, disse nesta quarta-feira à AFP Jorge Chemes, presidente da Confederações Rurais Argentina.

Conflito também encareceu a importação de fertilizantes e de combustíveis, | Foto: Juan Mamobrata / AFP

“Não queremos uma desvalorização que produza danos. Queremos, sim, que haja um ajuste lógico de valores no dólar que nos permita ter uma exportação razoável e que nos gere um marco de rentabilidade para poder prosseguir”, disse Chemes, em alusão à brecha entre a taxa de câmbio oficial de 135 pesos por dólar em relação às cotações no mercado paralelo ou através de bônus da dívida, que praticamente dobram seu valor.

Uniram-se à proposta centenas de pessoas que se dirigiram para as estradas na área rural com seus maquinários, a cavalo e levando bandeiras argentinas. Mariano Roberto Ibarra, um trabalhador rural, disse ter ido protestar contra a deterioração econômica. “A gente está trabalhando para poder comer hoje. Antes havia uma margem de lucro que hoje não existe”, declarou à AFP.

Diálogo

Um dos principais produtores de alimentos do mundo e primeiro exportador de óleo e farinha de soja, a Argentina foi, por um lado, beneficiado pelo súbito aumento nos preços dos cereais e oleaginosas, como consequência da guerra na Ucrânia. Por outro, o conflito também encareceu a importação de fertilizantes e de combustíveis, essenciais para o campo. A Argentina importa 60% dos fertilizantes que consome, e 15% são provenientes da Rússia. “Não concordamos com esta paralisação, achamos que não leva a nada. Sempre privilegiamos o diálogo”, disse nesta quarta-feira o chefe de gabinete, Juan Manzur.

Embora tenha admitido que houve “sérias dificuldades em relação ao diesel”, Manzur destacou que “gradativamente o abastecimento vai se normalizando”. Juan Diego Echevere, da Sociedade Rural da província de Entre Ríos, afirmou que “sempre estamos prontos para dialogar com o governo. O que ocorre é que só o diálogo não basta, precisamos de uma mudança de políticas”.

O protesto dos produtores do agro foi organizado poucos dias após a nomeação da nova ministra da Economia, Silvina Batakis, na esteira da renúncia de seu antecessor, Martín Guzmán, em meio a turbulências cambiais e a uma inflação estimada em 76% para este ano.

Pedro Peretti, ex-diretor da Federação Agrária Argentina, criticou a motivação deste protesto ao destacar que “no campo não ficou um único hectare sem semear pela falta de combustível”. “Havia problemas de combustível, mas no campo estavam bem abastecidos e semeou-se o que se precisava semear e o que não se semeou foi por falta de chuva. Não há desabastecimento”, disse à Rádio Nacional. A expectativa é que as exportações agroindustriais alcancem um recorde de US$ 41 bilhões em 2022, cerca de US$ 3 bilhões a mais do que em 2021.

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