Polícia
“Luto eterno”, publicou em rede social jovem que foi presa por planejar morte do pai
Em 27 de maio, às 18h05min, Kalinca Lopes, 23 anos, publicou no Facebook a mensagem: “Descanse em paz meu amor que deus te receba de braços abertos pai …. Luto eterno…”. Na postagem, ainda havia uma foto de José Darício de Souza, 43 anos, assassinado a tiros na noite anterior em Segredo, no Vale do Rio Pardo. O que parecia ser o desabafo de uma filha abalada pela perda do pai, na verdade, escondia uma trama que estarreceria os investigadores. Dois dias depois, a jovem confessou ter planejado o crime para ser beneficiada com um seguro de vida, segundo a Polícia Civil.
Além do pai da jovem, também foi morto a tiros o trabalhador rural Mazonde Rodrigues de Nepomuceno, 64 anos. Segundo a investigação, ele não seria o alvo do crime, mas como estava na propriedade acabou também sendo morto. Além da filha de José Darício, a polícia prendeu o namorado dela, de 25 anos, e busca por um foragido. Este homem, que seria morador do município de Candelária, conforme a investigação, foi contratado para cometer o crime. A intenção seria forjar um latrocínio (assalto com morte).
No dia seguinte ao assassinato do pai, a jovem fez a primeira postagem na internet, lamentando a perda. No mesmo dia, divulgou informações sobre o velório e enterro. No dia 28 de maio, mais uma vez publicou uma mensagem, onde aparentava estar consternada: “E hoje o céu está de luto descanse em paz meu paizinho”, escreveu.
— Isso foi uma forma de tentar despistar. Nos chamou atenção desde o começo que já no local do crime ela fez algumas perguntas técnicas. Não esboçou reação de comoção, abalo. Estava preocupada em analisar a cena do crime. Sugerir que se tratava de um latrocínio — afirma a delegada Graciela Chagas, responsável por investigar o caso.
Postagem feita pela filha um dia após o crimeFacebook / Reprodução
No dia 29, ao ser ouvida pela segunda vez pela polícia, Kalinca confessou o crime. A jovem acabou relatando à polícia que planejou o crime por cerca de dois meses. E, para a execução, contratou um matador pelo valor de R$ 5 mil. Ela teria conhecido o homem, que segue sendo procurado, em um bar. Com a morte do pai, conforme a delegada Graciela Chagas, a filha disse que pretendia se beneficiar com um seguro de vida no valor de R$ 500 mil. A polícia ainda está confirmando a existência dessa apólice. Mas, no entendimento dos investigadores, a motivação do crime tem fundo patrimonial. Os pais dela estavam separados desde março e, em caso da morte do pai, a jovem acabaria beneficiada com a herança.
— Ainda estamos verificando se existe esse seguro. Mas, ainda que não exista, ele tinha patrimônios que seriam herdados, como terras. Entendemos que a motivação foi patrimonial — disse a delegada.
Possível distúrbio mental, alega defesa
O advogado Jorge Luiz Pohlmann afirma que a defesa irá pedir que Kalinca seja submetida a exames psiquiátricos para verificar a sanidade mental da jovem. Ele argumenta que a família desconhece a existência do seguro de vida e que o valor não seria compatível com a situação econômica do pai da jovem.
Kalinca fez publicação um dia antes de ser presaFacebook / Reprodução
— É um crime dantesco, bárbaro. Kalinca possui sinais evidentes de distúrbios mentais. A essência do crime é o motivo. E o motivo dado por Kalinca é um seguro de vida no qual ela seria contemplada, no valor de R$ 500 mil. A situação econômica de José Darício não era das melhores. Era um homem de poucas condições financeiras. Desconhecemos a existência dessa apólice até o momento. Vamos buscar avaliações psiquiátricas, para saber se ela não criou na mente dela essa apólice como motivo para esse crime — afirmou o advogado.
Ainda conforme a defesa, a jovem alega que o namorado não participou do plano. E que ele só teria percebido o que estava acontecendo no momento em que o crime já havia sido cometido. O advogado diz que a jovem teria enganado o namorado, dizendo que buscariam um trabalhador, para que ele fosse até Candelária.
— O namorado, segundo o depoimento de Kalinca, acreditou que estavam indo buscar um peão. Quando na realidade era um matador — explicou o advogado.
A polícia confirma que essa foi a versão da filha no depoimento, mas diz que outra hipótese está sendo apurada. A investigação apura também se há participação de outras pessoas no plano. Já o advogado argumenta que a jovem teria planejado o crime sozinha.
O crime
Kalinca confessou à polícia que na noite de 26 de maio foi até a propriedade onde o pai vivia, no interior de Segredo, acompanhada do namorado e do autor do crime que havia contratado. Após o casal ingressar na casa, o criminoso entrou na sequência e anunciou o assalto. O pai de Kalinca e um trabalhador estavam na moradia. No lado de fora da casa, próximo de um galpão, José Darício e Mazonde foram mortos a tiros. Depois do crime, Kalinca retirou alguns objetos da casa para simular um latrocínio. Os três deixaram o local. O crime foi descoberto no dia seguinte, quando dois transportadores de tabaco foram até a propriedade e encontraram os corpos.
Fonte: GaúchaZH
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