Justiça
Sexta-feira para conhecer a sentença dos réus do Caso Bernardo
Nesta sexta-feira, 15, chegará ao seu final o julgamento que aprecia o bárbaro crime que vitimou o menino Bernardo, de 11 anos de idade, em Três Passos (RS). A Rádio Planalto News, em sua página de Facebook e em vários momentos da programação, realiza o complemento e acompanhamento. Hoje, às 10h e às 13h serão apresentados dois debates sobre o assunto na 92.1 FM.
Nesta sexta-feira o Ministério Público, pela acusação, e os advogados de defesa terão seus espaços para réplica e tréplica. Após, a juíza responsável pelos trabalhos reunirá os jurados e irá proferir a sentença dos quatro acusados.
O quarto dia do julgamento, ontem, quinta-feira, foi o mais longo da semana no Fórum de Três Passos. Depois de acusação ter quatro horas para pedir condenação dos réus, advogados de defesa tiveram outras quatro horas – uma para cada representante – para fazer suas explanações. A sessão foi prolongada até pouco mais de meia noite e será retomada na manhã dessa sexta-feira, quando o júri popular deve chegar ao fim.
A primeira defesa a falar foi a de Leandro Boldrini, com o advogado Ezequiel Vetoretti. O representante do réu criticou a cobertura que o caso recebeu nos últimos anos, que teria mostrado seu cliente como um “monstro”. Da mesma forma, rebateu algumas das testemunhas, que afirmavam, por exemplo, que Leandro não ligava para o filho. Ainda disse que ele, de fato, “não era um bom pai”, mas que tinha amor pelo filho, e que não chorou no julgamento e em depoimentos anteriores por ser uma pessoa fria. “Leandro é inocente e tem que voltar aqui para seguir salvando vidas como sempre fez na região. Ele é inocente”, declarou aos jurados.
O advogado de Graciele Ugulini, Vanderlei Pompeo de Mattos, admitiu que sua cliente é culpada pela morte do enteado, mas disse que seu crime foi culposo e não doloso. “Eu defendo uma ré confessa mas não nos termos do MP”, disse, ao defender que fato teria sido acidental. “A confissão da Graciele contribuiu para a investigação”, disse o representante da acusada. Falou ainda que não defendia a sua inocência, mas que não poderia concordar que fosse um homicídio doloso.
A defesa de Edelvânia Wirganovicz se dividiu entre seus dois advogados: Gustavo Nagelstein e Jean Severo. “Essa situação desse júri ter demorado cinco anos pra ser realizado não condiz com o que entendo por justiça”, começou Nagelstein. Já seu colega protagonizou um dos momentos mais chamativos da noite. “Isso aqui é a denúncia do MP, mas pra mim é uma AK-47, uma pistola automática que detonou a vida de duas pessoas (Edelvânia e Evandro)”, começou dizendo. Em seguida, chamou a cliente ao meio do salão do júri e se referiu a ela como “lixo”, em forma de crítica a como ela supostamente vem sendo tratada. A ré chorou, disse que errou, que queria pagar pelo seu crime e tentou inocentar o irmão Evandro. O advogado pediu a condenação dela por ocultação de cadáver, mas a absolvição do homicídio.
O último a falar foi Luiz Geraldo Gomes, advogado de Evandro Wirganovicz. “Esse processo está tapado de erros. Esse processo é um mar de equívocos”, disse o representante do réu. Durante sua fala, ele e disse Evandro era um “estranho no ninho” no caso e falou sobre o que considera ser uma falta de provas da participação do seu cliente na morte de Bernardo. De acordo com Gomes, não há elementos como interpretação telefônica ou imagens que liguem Evandro aos envolvidos, além da comprovação de que o réu tenha recebido dinheiro.
A sessão terminou depois da meia-noite. Ela será retomada na manhã de sexta-feira, às 9h, quando teve iniciar o último dia do julgamento. Serão ouvidas a réplica da acusação e a tréplica dos advogados dos réus, duas horas para o MP e duas horas para as defesas – 30 minutos para cada. Em seguida, os jurados que formam o Conselho de Sentença devem ir para a sala secreta para e responderem quesitos para cada um dos crimes. Eles entregam as respostas à juíza, que dosa a pena, redige a sentença e a emite.
Fotos do corpo de Bernardo marcam debates no julgamento
A exibição de imagens do corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, durante a tarde, foi um dos momentos mais impactantes do julgamento dos acusados pela morte do menino. As fotografias foram mostradas pela acusação durante os debates do júri popular e gerou comoção em parte do público presente no Fórum de Três Passos acompanhando a sessão. A explanação do Ministério Público (MP) durou quatro horas e foi seguida por mais quatro horas de manifestações dos representantes dos réus – divididas em uma hora para cada uma das quatro defesas.
“O anjinho do Bernardo já estava podre”, afirmou o promotor Ederson Vieira aos jurados durante a exibição das fotografias do corpo de Bernardo, quando o debate assumiu um clima visivelmente mais pesado. O pai do menino, o réu Leandro Boldrini, não acompanhou esta parte do debate. Ele foi autorizado a se retirar da sala para não ver as imagens do menino morto. “Um pai que ama o filho, vai sair direto para UTI e passar mal. Um pai inocente passaria”, disse o promotor, antes do acusado deixar o local.
Os promotores foram bastante contundentes durante a exibição das imagens do corpo de Bernardo. “Um pai que ama o filho, vai sair direto para UTI e passar mal. Um pai inocente passaria”, disse o promotor Bruno Bonamente, que comandou a maior parte da explanação do Ministério Público. Outras imagens mostradas forma de Graciele Ugulini, madrasta de Bernardo, em uma loja comprando uma televisão, o que teria ocorrido logo após o crime. “Esta é a calma de quem recém assassinou seu enteado”, declarou Bonamente.
A acusação também mostrou registros telefônicos de Leandro Boldrini com o objetivo de provar a falta de preocupação do médico com o desaparecimento do filho, em abril de 2014, e contrapor as afirmações do réu, que havia dito que fez uma “maratona de procura”. Eles também criticaram o fato do casal Leandro e Graciele terem ido a uma festa um dia depois de Bernardo desaparecer e do médico ter ido trabalhar normalmente. “Qual pai vai realizar uma cirurgia com o filho desaparecido? Não treme a mão e, segundo testemunhas, entrou cantando no bloco cirúrgico”, disse Ederson Vieira.
Vieira foi um dos promotores que disparou frases mais enfáticas referindo-se aos réus. Ele chamá-los de “psicopatas””. “Me conforta que talvez o anjo (Bernardo) não sentiu dor física pelos remédios. Mas e os quatro anos torturados psicologicamente naquela casa? Aqueles quatro psicopatas aqui atrás de mim”, disse. O promotor também disse que a “monstruosidade” de Leandro e Graciele era maior do que a de Edelvânia e Evandro Wirganovicz, que também era “imensa”.
Depois das explanações da acusação, a juíza Sucilene Engler fez um intervalo de cerca de meia hora. Em seguida, seriam ouvidos os advogados de defesa. A expectativa era de que a sessão chegasse até perto de meia-noite. As falas dos representantes dos réus ultrapassaram o horário de fechamento desta edição do Correio do Povo, que, no entanto, seguiu acompanhando pelas mídias digitais.
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